Guerra Dolorosa e Celestial

Ora, ora, ora. Finalmente havia ocorrido o tão esperado fato. Quando as duas estrelas ardentes se amaram, a guerra começou. Os frutos desse amor surgiram para guerrear com fogo os terrores malignos. De uma forma celeste, os filhos das estrelas lutando coloriam o céu, como uma alegre festa. Já na parte terrena, os pecadores mais sujos lançavam suas negras energias em direção aos anjos estelares. Esses eram os negligentes da paz, os verdadeiros descendentes do mal, os quais, a qualquer custo, jamais se arrependeriam e deixariam sua carne ser purificada pela natureza a fim de se renovar a vida e dar uma segunda chance a quem se arrependera – e aprendera – e ver a vez de quem ainda não surgiu. Não. Jamais! Inaceitável, o ódio os mantinha vivos na parte mais obscura da Terra, possuída pelo Inferno. O planeta ainda não estava preparado para a chegada das novas vidas e as recicladas; estava fraco. E esta guerra pioraria sua situação; mas era necessário.
   Os seres estelares atacavam com todas as suas energias, mas a negra barreira sugava seu show colorido. E o ódio aumentava e se fortaleciam. Nenhum ser é invencível, e algum tempo depois, as luzes se enfraqueceram e, tomadas pela aura maligna, altamente depressiva, caíam em desespero. Uma a uma se apagavam e eram absorvidas.
  Os dois amantes genitores, ao verem seus filhos falecidos, atacam histericamente. A estrela-fêmea é sequestrada e seu parceiro, preso. Não haviam perdido por serem fracos. Era justamente o contrário. Mas ataques passionais são totalmente barrados e assim, o negro manto sugou a radiante vitalidade de seus corpos.
  Fazê-los se render não era o suficiente para as almas empobrecidas em termos de amor. Pode-se dizer até que eram miseráveis. Necessitavam sentirem-se donos do inimigo. E assim, num ato possessivo, introduziu seu falo na pura alma estelar com o intuito de que suas sementes sugassem o resto de sua luz, a qual ainda permanecia forte.
  Contudo, o que se sucedeu foi algo extraordinário, de cunho milagroso. A dor e o amor se uniram e purificaram os pretos brotos. E, de sua gravidez indesejável, surgiu o Filho do Mundo, fruto de um estupro celestial. Sua existência era pura na sua essência, mas era também uma aberração.  E seu sofrimento foi tão grande por não ter culpa de sua origem ou de qualquer dor naquele antro, que sua luz cegou a todos com a verdade e, de tão forte, não pôde ser sugada pelo negro manto. Na realidade, este foi destruído, pois a escuridão não existe onde há luz.
  Com a destruição de todo o mal, os corpos dos pecadores mais sujos se deixaram levar pelo apodrecimento final de sua carne, a qual era substrato fúngico. O Filho do Mundo se encontrava em uma situação parecida e, portanto, suplicara à Morte que o levasse às profundezas do sono, pois mesmo no lugar mais belo e puro, as lembranças de seu nascimento o atormentariam. Então queria descansar. Descansar nos mais lindos sonhos. Descansar nas mais belas mentiras. O mundo era maravilhoso; mas aqueles que usufruem dele não o mereciam pela maldade no interior de seus corações. Então queria esquecer essa tristeza, apagá-la para sempre.
  As entidades estelares apoiaram seu rebento e queriam ir com ele. A mãe, por ter sido violentada, queria esquecer as dores física e passional; o pai queria o mesmo, mas pela dor de não poder fazer nada por quem mais amava e pelo Filho do Mundo não ser fruto da paixão ardente entre os dois guerreiros, além da mancha que agora arruinava a sua pureza. Não se sentia agora digno de seu amor.

  A Morte, entendendo perfeitamente os sentimentos das entidades, leva-os para o Vale do Descanso, onde as pobres almas fechavam seus olhos para sempre. E, aproveitando o ensejo, deitou-se na relva para também seus olhos fechar.

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