Otto Mago

  Desconfiávamos; não tínhamos certeza. Otto parecia normal, apesar de neurastênico. Talvez fosse um ser não pertencente dali, mas que se esforçava a dar a entender que era apenas um companheiro bobão. De vez em quando, sumia num piscar de olhos e aparecia do outro lado da porta, sem explicação terrena. Ou humana. À noite, alguns sapos apareciam na varanda e corríamos para expulsá-los de nosso castelo, enquanto Otto parecia querer beijá-los. Talvez fossem seus príncipes. Ao menos em seu pequeno cérebro. Lembro-me de arrancar as cabeças dos pardais que ficavam presos na tela que revestia a varanda, além de comer um morcego. Hoje penso que estava apenas coletando ingredientes para poções. Ou para conquistar o mundo. Ou ainda, que almejava transcender. E penso que conseguiu. Seu último sapo foi a chave para uma nova dimensão. Sempre desconfiei que fazia bruxarias.







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