Noite Torturante

  Talvez fosse efeito colateral de algum remédio que poderia ter tomado no início do dia. Mas ele não se lembrava. Queria paz a qualquer custo; desesperava-se cada vez mais ao ouvir as risadas maléficas e piadas infames a seu respeito. Aspirava a uma sociedade justa, que respeitasse as escolhas de cada cidadão. E gostaria que as pessoas não traíssem aqueles que as considerassem suas melhores amigas espalhando seus segredos a todos como se fosse algo bizarro e que devesse ser exterminado.
  O rapaz sofria deitado naquela cama maltrapilha, ensopada por conta das infinitas lágrimas que escorriam. Seria boa a morte? Quem sabe traria a tranquilidade tão desejada... Ao mesmo tempo lutava para viver, e sabia que sozinho não conseguiria combater seus inimigos, os quais contabilizavam um número um tanto alto para um garoto tão frágil. Maldito bullying, o ditador sem coração. Não cria regras porque sempre existem exceções. São leis. Leis injustas e sistemáticas, formando robôs e não pessoas.
  Agora ele se lembrara. Estava tranquilo e veio à cabeça a imagem dos brancos docinhos que achara no banheiro e, em um ato de desespero, engoliu um atrás do outro. Ao menos estava protegido e ninguém mais lhe daria uma surra por conta de sua homossexualidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

É, infelizmente, nós seres humanos continuamos a praticar coisas intoleráveis, o bullying é uma delas.
Isso acontece por falta de amor e respeito ao próximo.

José Renato de Almeida Prado disse...

Muito bom o miniconto. O bullying é uma prática condenável, que infelizmente se propaga em todos os cantos. Você conseguiu expressar com propriedade o desespero da vítima.
Parabéns, Magê!

Magê disse...

Obrigada :D